A dor de perder um pai


Traumático acho que é o sentimento que melhor explica o que sinto. Não acredito que de um momento para o outro, o meu apoio, a garantia de que tudo ia correr bem, o meu sustetáculo a esta vida que já tinha sofrido o abalo de perder a mãe 16 anos antes, tinha do nada desaparecido. 

É um vazio que deixa, pois por muitas divergências e feitios opostos que tivessemos era ele que ali estava a companhia, a protecção, a amizade, aquela pessoa com a qual podiamos contar. Chegava ao fim do dia e contava-lhe como tinha corrido o dia, e das coisas que não tinha gostado que aconteceram, e ele quando eu dizia "mata, ele dizia esfola", quando ia algum lado sabia que podia telefonar-lhe, que estaria à minha espera, se me atrasasse ligava preocupado. 

A vida tinha-se composto com nós os dois, já me tinha habituado, e ele já tinha mudado muito a maneira rigida de ser. E do nada tudo se desvanece e ele morre. 

A vida continua a ser muito cruel para mim, tira de mim tudo o que ainda me dava vida. E nem uma despedida pude fazer, pois já não tive tempo, quando o INEM que demorou mais de 30 minutos a vir, entraram para o quarto não mais o vi com vida.

Ficou sem saber tudo o que lhe queria dizer, que gostava muito dele, sempre me dizia que eu não sabia ser afetuosa, mas eu mostrava da maneira que sabia. 

Mas sei que nunca vai ler este texto, mas eu gostava muito dele, muito mesmo. 
Sempre pendei que se o perdesse que me matava em seguida, não tenho coragem ainda, mas não sei como viver sozinha, na mais ablosuta solidão. 

Tento me agarrar ao que ele dizia que eu não me importava com as pessoas, tenho ser fria o sufuciente para poder ver as horas passarem, mas elas aumentam a dor que sinto. Aumentam o medo deste mundo novo que não conheço, que não sei lidar com ele.

Queria muito que houvesse espiritos e que ele estivesse aqui, junto de mim, pelo menos num outro plano. Mas que o pudesse ver ou ao menos saber da sua presença.

O problema de ter uns pais com 40 anos de diferença de mim, fez assim de mim orfã muito cedo, cedo demais para saber voar com as próprias asas. 

E a tristeza que me consome é dura demais, e doi continuar viva, sem amor, sem dinheiro, sem paz, sem certezas, sem vida pessoas, sem vida profissional, sem afectos, sem amigos.

A vida não é mais vida, é um percurso a piloto automático em que se percorrem as horas, à espera que amanhã é um dia a menos que estamos neste mundo cruel.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Outro decepcionante final, o de "Vidas em Jogo"

Primeira delegacia de crimes contra animais em São Paulo - Para quando uma assim em Portugal?